plural

PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff


Liberdade de expressão?
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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Vivemos em uma era na qual a liberdade de expressão é um direito fundamental, um valor arraigado em nossa sociedade. Podemos ver as mais diferentes expressões de opiniões expostas nas redes sociais e meios de comunicação. Entretanto, creio, uma pergunta de fundo precisa ser respondida: todos aqueles que produzem os comentários apresentam o mesmo peso nos debates públicos? Questionar sobre as assimetrias discursivas existentes na sociedade revela hierarquias e distorções presentes no espectro social, o que evidencia se existe de fato liberdade de expressão ou a mesma não passa de uma ilusão destinada a um pequeno segmento da população.

EXERCÍCIO

A percepção do que estamos evidenciando pode ser realizada com um simples exercício. Qual o rosto dos discursos que chegam a cada um de nós? Qual é sua cor, seu gênero, orientação sexual, classe social? Quanto mais marcadores de diferenciação forem acionados, melhor. Podemos perceber, de fato, uma pluralidade de opiniões, ou os grupos sociais se repetem?

Vamos utilizar a classe política como exemplo, que em tese são os representantes do povo. Podemos verificar que no congresso apresentamos hoje apenas 15% de mulheres, sendo que o Brasil apresenta 52,5% de eleitoras. Pardos e Negros somam aproximadamente 50% da população e apresentam apenas 4% dos postos políticos. A questão que paira é aonde estão estas vozes?

PROBLEMAS ESTRUTURAIS

O Brasil tem inúmeros problemas estruturais. Embora possamos traçar sua origem histórica, não vivemos mais no passado. Como bem descreve o advogado e doutor Silvio de Almeida, a história explica a condição da exclusão, sobretudo no que tange aos negros, mas não justifica o racismo ainda existir. Podemos, enquanto sociedade, remodelar e buscar novos rumos, mas para isso precisamos de um esforço comum enquanto sociedade.

Lutar pela diminuição de preconceitos é uma luta epistêmica, discursiva e material. São diferentes lutas que se articulam. A dimensão econômica, tradicionalmente apresenta o quadro material de exclusão social, entretanto, o fenômeno vai muito além. Exclusão social e preconceito articulam-se, produzindo a sociedade brasileira, que vigora na 7º colocação entre as mais desiguais do mundo segundo o índice GINI.

A questão fundamental é: como trazer mudanças sociais no Brasil, dado que os grupos que mais sofrem violência na sociedade são justamente aqueles que não têm suas vozes devidamente respeitadas no espaço público?


Jornalismo militante
Rogério Koff
Professor universitário

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Na semana passada, um jornalista perguntou a certa candidata à prefeitura de Porto Alegre vinculada ao Partido Comunista do Brasil: "Qual é o comunismo que você defende? O chinês ou o cubano"? E ela respondeu: "Nenhum dos dois. O meu comunismo é o que vamos construir juntos no Brasil". Pelo visto, a candidata fecha os olhos para os milhões de assassinatos perpetrados pelos regimes comunistas ao longo do século 20. Mais de 30 anos após a queda do Muro de Berlim, ainda temos representantes de uma elite que se orgulham de ser comunistas. Falo em elite porque não conheço comunista pobre. Só conheço comunistas ricos ou na classe média alta, sejam eles intelectuais, artistas, professores e políticos. Eles acreditam ter a missão de serem os mentores espirituais da classe trabalhadora. São arrogantes, porque pensam que os pobres são alienados.

Os menos favorecidos, no entanto, gostam mesmo é do capitalismo. Eles sonham vencer na vida, conseguir um emprego melhor ou comprar um presente de Natal para os filhos. Quem estuda história sabe que o próprio Lênin era um crítico feroz dos sindicatos pragmáticos de trabalhadores que lutavam por melhorias salariais para seus filiados. Se conseguissem sucesso nas negociações com a classe patronal, a revolução iria para o brejo.

RAYMOND ARON

O tema foi explorado pelo pensador francês Raymond Aron (1905-1983) em um livro de 1954 chamado "O ópio dos Intelectuais". Estamos diante de um interessante trocadilho com a crendice defendida por Karl Marx no sentido de que a religião era o ópio do povo. O leitor pode fazer uma comparação entre as teses marxistas contra a religião e as recentes depredações de igrejas protagonizadas por militantes de esquerda no Chile.

Mas voltemos a Aron. Ele foi corajoso ao contestar a maioria dos intelectuais de seu tempo, para os quais os proletários eram originalmente alienados e precisavam ser despertos de seu sono profundo para que pudessem realizar sua missão revolucionária. Porém, para Aron aquilo que Marx definiu como a "classe operária" simplesmente não existe; é uma mistificação criada pela teoria marxista e defendida apenas por intelectuais de esquerda privilegiados.

O autor escreveu: "O comunismo é uma versão degradada da mensagem ocidental. Retém a ambição de conquista da natureza e de melhoria da sorte dos humildes, mas sacrifica o que foi e permanece sendo a alma da aventura indefinida: a liberdade de pesquisa, a liberdade de debate, a liberdade de crítica e de voto do cidadão". Por ter tido a audácia de apontar isso em uma época na qual filósofos, escritores e artistas negavam os crimes praticados pelo regime comunista totalitário da União Soviética, Aron foi um pensador diferenciado, uma espécie de lobo solitário que ousou defender as liberdades humanas fundamentais. Indico, com ênfase, este ótimo livro.


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